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segunda-feira, 1 de maio de 2023 às 16:35 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments

Psicose 2 é um filme que carrega nas costas o peso de ser a continuação de um filme clássico que estabeleceu as bases para muito do que foi visto no cinema de terror depois. O próprio subgênero slasher deve muito ao Psicose de Hitchcock, que reproduzia todo o minimalismo do cinema clássico com precisão e muita inventividade, o que é típico do diretor e que trazia em seu próprio esquema de produção barato um indicativo dos novos rumos que o cinema iria tomar, com as nouvelles vagues pelo mundo e a quebra de alguns padrões de linguagem e temáticas adotadas pelo cinema tradicional. Nesse sentido, Psicose 2, na sua forma, é um belíssimo exemplo de como o cinema de Hitchcock influenciou praticamente todo um cinema que veio depois.

Reconhecendo o legado do qual faz parte, Psicose 2 já tem início com a clássica cena do chuveiro, porém de imediato já se distingue por vários elementos. Com uma trilha sonora magnífica (composta por Jerry Goldsmith) que consegue emular a tensão típica de um filme de gênero com um toque melancólico para essa abordagem de  Norman BatesPsicose 2 aborda o protagonista como um sujeito atormentado a procura de uma vida normal e que se vê sempre manipulado por uma série de fortes figuras femininas, e nesse sentido o ator Anthony Perkins é um poço de carisma e dubiedade que carrega o filme junto com a sua coadjuvante, Meg Tilly interpretando Mary, estabelecendo uma das mais envolventes relações do cinema de suspense e terror slasher, com um roteiro que não se furta de criar várias inversões de expectativas, falas dúbias, reviravoltas das mais interessantes, as quais os atores respondem com uma perfeição que consegue tornar o drama real e palpável, sem perder de vista o suspense e a tensão que prende o espectador ao filme. 

A direção de Richard Franklin é dedicada não só em reproduzir a criatividade de Hitchcock, mas também em atingir o seu próprio nível de elegância. Para quem já assistiu Os Fabelmans, filme autobiográfico dirigido por Steven Spielberg, vai lembrar facilmente da adorável cena da breve aula de enquadramento que um John Ford interpretado por David Lynch lega ao personagem principal, alter ego do diretor. "Quando a linha do horizonte está acima ou abaixo, é interessante, quando está no meio, é chato", diz o personagem, e para qualquer cinéfilo é difícil assistir à cena e não passar a reparar na posição da linha do horizonte de qualquer filme. Pois aqui em Psicose 2 os enquadramentos são de um primor técnico realmente deliciosos, com muitas cenas em plongée e contra-plongée que posicionam a linha do horizonte para longe do meio do quadro, alguns planos zenitais, ângulos holandeses lindíssimos, ótimo uso de split diopter (numa cena principalmente, que desafia o próprio conceito dessa técnica, em o fundo em foco é intencionalmente desfocado para que não passamos ver a identidade do assassino ou assassina) e uma montagem que não perde em nada para o filme original, com destaque para toda uma sequência final que envolve um personagem que sofre uma facada e cai da escada. 

Pondo em evidência o legado do filme original ao mesmo tempo que absorve as mudanças que o cinema viveu durante os mais de vinte anos que o distanciam de seu predecessor, Psicose 2 faz bom uso de cores, de um certo grafismo oriundo do slasher, de uma exuberância na direção que o cinema maneirista oitentista vai explorar com afinco, principalmente na figura de um certo Brian DePalma, e tem sua principal força na relação entre Norman Bates e Mary, que prende a atenção até o desfecho.

Direção: Richard Franklin

Roteiro: Tom Holland

Montagem: Andrew London

Trilha sonora: Jerry Goldsmith

Elenco: Anthony Perkins, Vera Miles, Meg Tilly, Robert Loggia , Dennis Franz, Hugh Gillin, Claudia Bryar, Robert Alan Browne, Ben Hartigan, Lee Garlington, Tim Maier, Jill Carroll, Chris Hendrie, Tom Holland, Michael Lomazow

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