Existem filmes que dependem muito da nossa visão daquela obra como filme. Exercendo constantemente a metalinguagem e sendo autorreferenciais na maneira com tratam os clichês do gênero e informações prévias, são filmes que dão outra dimensão sobre a sensação de assisti-los do que se dependessem exclusivamente da suspensão da descrença. Essa é uma abordagem muito comum no cinema de Scorsese, Tarantino, Godard, Woody Allen, entre outros. Confesso que o último lugar que esperava encontrar isso era na sessão de "Deadpool".
Usando e abusando do recurso “vamos rir do nosso filme antes que os outros o façam”, Deadpool tem início com letreiros de apresentação que sintetizam não só a irreverência do longa como também a autoconsciência de um produto enquanto produto dentro da indústria. Escrito pelos responsáveis por "Zumbilândia", o roteiro é estruturado com idas e vindas no tempo, estabelecendo o “herói” em ação ao mesmo tempo que conta a sua origem. Constantemente a quarta parede é quebrada e piadas sobre sexo e cultura pop são feitas. Inclusive até o fato do filme estar (e isso não é spoiler, está no trailer) dentro do universo X-Men de maneira não muito orgânica é usado como situação cômica que funciona muito bem, além de dar mais opções de ação ao diretor, que não precisa se limitar em usar somente o personagem título e nem perder tempo introduzindo outros personagens desconhecidos.
A ação do longa é simplesmente correta, envolvente e satisfatória, a fotografia surge mais cheia de cor na presença do personagem mascarado e um pouco dessaturada na sua ausência ou na sua forma humana e a música exprime corretamente e a grandeza e apreensão nos momentos devidos, mas o clima é de fato estabelecido pelas canções que tocam no decorrer do longa. A grande sacada está no tom do filme e no próprio relacionamento dos personagens, da química entre Ryan Reynalds, que critica a própria carreira num diálogo hilário, e da brasileira Morena Baccarin. A cena pós créditos novamente recorre ao recurso da quebra da quarta parede de maneira extremamente engraçada e que dá pistas sobre uma continuação.
Sem se levar a sério em nenhum momento e sendo escapista por definição, "Deadpool" é um filme que diverte, envolve é autoconsciente de si e não subestima o espectador. Só por isso é uma produção que passa na frente de muitos longas de seu gênero.
Direção: Tim Miller
Roteiro: Rhett Reese , Paul Wernick
Música: Junkie XL
Fotografia: Ken Seng
Elenco: Ryan Reynolds, Karan Soni, Ed Skrein, Michael Benyaer, Stefan Kapicic, Brianna Hildebrand, Morena Baccarin
Roteiro: Rhett Reese , Paul Wernick
Música: Junkie XL
Fotografia: Ken Seng
Elenco: Ryan Reynolds, Karan Soni, Ed Skrein, Michael Benyaer, Stefan Kapicic, Brianna Hildebrand, Morena Baccarin
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