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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016 às 09:24 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments

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Existem filmes que, quase de maneira hipnótica e envolvente, conseguem, ao mesmo tempo que contam uma história, gerar reflexão sobre o ser humano, a natureza e as relações entre ambos.
No cinema de Werner Herzog e de Terrence Malick temos ótimos exemplos desse tipo de cinema. Infelizmente não é o caso do mais novo trabalho de Alejandro González Iñárritu.

Começando seu longa com sussurros que se pretendem poéticos, rostos filmados com grandes angulares e planos em contraluz em meio à magníficas paisagens naturais, "O Regresso" de cara já lembra filmes como o subestimado "Novo Mundo" ou o belíssimo "A Árvore da Vida", ambos de Malick. Vindo de "Birdman", filme quase inteiramente composto de um único plano-sequência, Iñárritu e Lubezki buscam repetir a fórmula variando entre longos planos e planos-sequência. Um em específico que envolve uma batalha contra os índios é particularmente empolgante, envolvente e bem filmado. Num primeiro momento os cortes surgem sempre pontuais. Porém há cenas em que se pode questionar a câmera contínua em detrimento do corte. Se em Birdman temos a sensação de continuidade oriunda do plano-sequência que rima com a ideia da história se passar num teatro, dando-nos a sensação de improviso e do trabalho do ator que é tão caro e essencial ao longa, neste O Regresso o fato da câmera estar se movimentando ao redor de um eixo muitas vezes ao longo do filme dá a impressão de exibicionismo por parte do realizador, não encontrando amparo narrativo para essa decisão. Aí chegamos à cena mais brutal e realista do filme, do ataque do urso, em que novamente a câmera errante passa a ter planos fechados e enquadramentos estranhos que poderiam ter sido evitados com o simples uso do corte. Nesse momento em particular sente-se a sensação de desleixo e perda de informação causada por uma técnica errônea narrativamente e desnecessária.

Porém quando o longa passa a retratar a luta pela sobrevivência do personagem, em longos momentos de silêncio, sofrimento e lembranças, a projeção tem o seu ponto alto, emocionalmente eficaz, tecnicamente satisfatória, investindo agora nos planos abertos, na fotografia belíssima e buscando estabelecer uma descrição geográfica ao mesmo tempo que entra no mundo interior de seu protagonista, amarando as duas partes muito bem. Aqui cabe citar que a interpretação de Leonardo DiCaprio como um Hugh Glass  sofrido e determinado preenche a tela, assim como o cinismo,  a ganância e a complexidade de John Fitzgerald de Tom Hardy. O elenco de apoio conta com Domhnall Gleeson na sintonia certa e Will Poulter encarna a confusão e a culpa de seu Jim Bridger muito bem.

Todavia, o que vinha muito bem até o desfecho se perdeu completamente numa história de vingança com uma resolução incoerente. Os diálogos finais entre os personagens que se enfrentam soam estranhamente mastigados, expositivos e dispensáveis.  O sofrimento de seu personagem não fora expurgado, aceitado ou transcendido, por mais que Iñárritu tente nos convencer que alguma dessas coisas aconteceu. A sensação não deixa de ser a frustração por assistirmos a uma história que, pela mudança de tom no seu ato final, dá a impressão de não resolver conflito algum.

Direção: Alejandro González Iñárritu

Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Mark L. Smith, Michael Punke

Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Brad Carter, Brendan Fletcher, Chris Ippolito, Christopher Rosamond, Dave Burchill, Domhnall Gleeson, , Will Poulter

Fotografia: Emmanuel Lubezki

Montador: Stephen Mirrione

Trilha Sonora: Bryce Dessner, Carsten Nicolai, Ryûichi Sakamoto

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