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O que mais me agrada num filme é a maneira como uma tela grande com uma luz projetada é capaz de evocar sensações já presentes no nosso imaginário. Na maioria das vezes o processo se dá de dentro para fora, quando nós mesmos descobrimos sentimentos que nem nós sabíamos possuir.



Um arquiteto, João Carlos (Irandhir Santos), encontra uma ossada na obra que está prestes a iniciar. A descoberta desencadeia uma crise existencial em João Carlos, às vésperas do nascimento de seu filho.

De modo delicado e envolvente, sem ser bem claro ou específico, "Obra" é um filme que envolve o espectador no mundo de seu personagem, num tom melancólico e dessaturado bem evocado pela belíssima fotografia em preto e branco, numa montagem eficiente que segura os quadro bastante tempo na tela, numa câmera praticamente estática lembrando um curioso filme francês, La Jetée (filme narrado por uma voz off e uma sequência de imagens que não provocam a ilusão do movimento, uma fotomontagem em preto e branco).

A interpretação de Irandhir Santos é eficiente ao compor um personagem que possui poucos diálogos, caindo no silêncio quando confrontado com algumas perguntas e situações, mas que, sentimos, se encontra em profundo conflito existencial e dor física, parecendo encontrar certo consolo em meio ao concreto e figuras arquitetônicas. Lola Peploe, afilhada de Bernardo Bertolucci, propõe um olhar novo às questões elucidadas com sua personagem, servindo como uma espécie de alívio em relação conflito do personagem, ao mesmo tempo que dá um ar aparentemente verossímil à este, sendo que sua presença surge por vezes com ar de esperança e calor quando aparece em cena.

O filme evoca questões como herança, morte, dor, incomunicabilidade, passado, memória, restauração, mas não se concentra em nada específico, bastando simplesmente colocar as questões e deixar que o público preencha as lacunas.

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Fica clara a busca pelo passado e a dívida social construída através da história de nosso país com grupos excluídos e nesse sentido a existência de um cemitério indígena descoberto no longa é muito clara na construção dessa mensagem.

Com um final sutil e que remete pensamentos diferentes à cada um que vive essa experiência subjetiva, "Obra" não é um filme fácil, mas que merece ser visto pela sua beleza técnica, pela segurança narrativa de um diretor estreante, por evocar sensações subjetivas fortes e por se tratar de cinema nacional de grande qualidade.

Direção: Gregório Graziosi
Elenco: Irandhir Santos , Júlio Andrade , Lola Peploe , Sabrina Greve , Marku Ribas, Christiana Ubach , Marisol Ribeiro
Roteiro: Gregório Graziosi , Paolo Gregori , José Menezes
Produção: Zita Carvalhosa
Fotografia: André Brandão
Montagem: Gabriel Vieira de Mello

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