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Nos primeiros minutos desse incrível filme de Jonathan Demme somos apresentados à cidade de Filadélfia ao som da bela canção de Bruce Springsteen, com uma câmera que passeia pelos espaços roubando momentos da vida comum dos cidadãos no melhor estilo documental.

Vemos pessoas reunidas abanando e sorrindo para a câmera, em uma série de momentos preciosos de sua rotina diária. E é nesse contexto que somos introduzidos na história de Andrew Backett (Tom Hanks), um talentoso advogado gay e que contraíra o vírus da AIDS. Backett contrata um famoso advogado (Joe Miller-Denzel Washington) para processar a firma para a qual trabalhava por julgar ter sido demitido por preconceito em relação a doença, e não por incompetência.


O filme estende o seu escopo para a intolerância e preconceito. Nessa óptica é interessante notarmos como Backett é tratado pelas pessoas ao seu redor, desde o momento em que é um advogado promissor e com futuro brilhante, até o momento em que surgem manchas em sua pele, fator indicativo da doença, e sua posterior deterioração física. O comportamento das pessoas ao seu redor vai da admiração, confiança e simpatia para a desconfiança, estranheza, medo, nojo provenientes de pensamentos sodomitas dos quais as pessoas gays eram, em muitos casos ainda são vítimas, confirmando que a AIDS, antes mesmo de representar uma deterioração do corpo, representa a morte da vida social do portador do vírus, tendo o peso do preconceito nas costas. Claro que o medo por vezes se justifica na própria falta de informações sobre a doença e a insegurança com a possibilidade de contraí-la. Nesse quesito reconheço a eficácia da política de conscientização sobre a AIDS e outras doenças em geral, como maneira de não só socializar os seus portadores como também para evitar que outros menos informados contraiam a doença. É fácil, principalmente hoje, julgar o comportamento daquelas pessoas como preconceituoso, mas numa época em que poucas informações havia sobre AIDS, não é difícil imaginar aqueles atos de medo e preconceito como nossos próprios atos se lá estivéssemos inseridos. É nesse ponto que a montagem inicial que beira o documental nos sugere a identidade que podemos construir com aquelas pessoas comuns que no geral viam com olhos estranhos a AIDS, permitindo pensar até onde nossas atitudes no dia-a-dia são preconceituosas e como esse preconceito afeta os outros.


Naturalmente Joe Miller surge como um excelente advogado que usa em seu favor o poder da imprensa e que apresenta em sua personalidade traços homofóbicos. Mas o importante é que o preconceito esta presente em Miller, que acaba aceitando o caso e reconhecendo que a situação que será colocada para o júri é acima de tudo uma questão de valores que pedem para serem revistos. Dessa maneira, sob o olhar de Miller, que conhecemos Beckett, independente de sua orientação sexual, mas sob a análise de uma pessoa, um ser humano que não foi julgado por seus méritos, mas por sua condição.


A interpretação de Hanks é soberba, tendo o seu auge na curiosa e perturbadora apreciação de ópera, em que o olhar fixo de Miller só sugere que começamos a entender o quanto de sofrimento uma pessoa sozinha, segregada e discriminada pode guardar em sua alma.


Com sequências de tribunal que são um show de eloquência e de concatenação de ideias, Demme investe, assim como em “O Silêncio dos Inocentes” em planos fechados e closes quando trata seus personagens, e muitas vezes temos a impressão de estarem falando conosco quando soltam suas falas diretamente para a câmera.


Demme cria um retrato sensível, lindamente concluído com um vídeo caseiro da infância de um ser humano incrível que lutou a todo o instante para ser tratado como tal. 


Direção: Joanathan Demme

Roteiro: Ron Nyswaner

Fotografia: Tak Fujimoto

Produção: Edward Saxon

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