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sexta-feira, 3 de maio de 2024 às 05:45 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments

Nada mais poderoso que o desejo. Esse motor da vida, que embaralha tudo ao nosso redor e gera as tramas mais novelescas possíveis encontra aqui, em Challengers, uma atraente forma de beleza cinética (esse conceito foi explorado com maestria por David Foster Wallace em seu ensaio "Federer como experiência religiosa", presente na coletânea "Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo"). E não é de cinema que eu estou falando, mas de tênis. Esse esporte encapsula toda a ideia de consciência corporal e integração corpo e mente que beira à transcendência.

No filme, é explorado o aspecto da comunicação entre os corpos na quadra, de maneira a ser quase uma anologia ao ato sexual em sua comunicação não verbal. As personagens passam a vida procurando viver esse momento de integração na quadra, de completude com o outro.

O diretor é muito feliz em buscar diferentes abordagens na maneira como filma e encena, fazendo a câmera ocupar os pontos de vista mais inusitados e menos óbvios. Tudo possui uma tensão sexual, sem que nunca tenha sexo em cena.

A montagem transita entre passado e presente de maneira a criar um panorama que valora cada etapa da decisiva partida de tênis. E também cria no espectador uma sensação de estar experienciando tudo ao mesmo tempo, num ritmo guiado pelas emoções das personagens, algo que o trabalho de câmera e a iluminação, hora naturalista, hora estilizada, reforçam.

Até mesmo a escolha de filmar a sua protagonista Zendaya de maneira sensual em algumas passagens, mas tomando o cuidado de não recortar o seu corpo para um olhar fetichista, é importante para estabelece-la como sujeito na trama, e não como objeto.

O julgamento moral das ações das personagens não é algo que preocupa o diretor, e o equilíbrio de ações e manipulações entre as personagens contribui para esse panorama de relações que não se baseia em condenar um ou outro. O olhar aqui é amoral e curioso, capaz de resgatar o desejo, a potência de vida, mas também o desgaste, cansaço, pulsão de morte e autossabotagem inerentes da vida.

Culminando numa integração total em um clímax que me fez sair ofegante da sessão, Challengers é um dos pontos altos deste ano, da carreira de Guadagnino, e do trio de atores, que brilha ofuscando tudo e todos.



Direção: Luca Guadagnino

Roteiro: Justin Kuritzkes

Montagem: Marco Costa

Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom

Música: Trent Reznor, Atticus Ross

Elenco: Zendaya, Josh O'Connor, Mike Faist, Darnell Appling, Bryan Doo, Shane T Harris, Nada Despotovich, Joan Mcshane, Chris Fowler, Mary Joe Fernández, A.J. Lister

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