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domingo, 12 de março de 2023 às 13:13 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments


Se Pânico de 1996, dirigido por Wes Craven, pavimentou a revolução do gênero slasher a partir da reflexão sobre os seus clichês num uso exemplar de metalinguagem, ao longo dos filmes a franquia sempre busca se reconhecer como é (continuação, trilogia, uma tentativa de refilmagem, sequência legado ou soft reboot), ao mesmo tempo que vem buscando entender o contexto em que está inserida e a geração para a qual se dirige, incorporando a relação dos jovens com a Internet, na busca incessante de likes nas redes sociais e na influência do fandom tóxico na cultura (vide como os fãs racistas e misóginos influenciaram os caminhos da franquia Star Wars em "A Ascensão Skywalker"). Ao longo da franquia, o jovem estereotipado do slasher que era empregado com autoconsciência pelos filmes passa a ser substituído por um comentário crítico sobre problemas da juventude e do fandom no mundo da cultura pop. 

Em Pânico 6 fica explícita a autoconsciência do filme que sabe que outros virão após ele, fazendo com que Pânico abrace de vez o seu caráter de franquia, brincando com as regras de maneira muito mais flexível e aberta, tanto que a figura da Mindy como aquela que conhece os clichês dos filmes e discorre sobre eles para orientar os caminhos da trama torna-se meramente ilustrativa e não tão funcional como em outros filmes da franquia. Os caminhos para estabelecer uma metalinguagem são cada vez mais tortuosos. É interessante notar que, se os primeiros filmes restringiam as suas regras e clichês aos filmes de terror, Pânico passou a conversar com uma tradição que inclui Star Wars, filmes da Marvel, Universo Jurássico, etc.

Num ponto de vista de comentário social, esse novo Pânico parece entender bem para qual geração está falando. Num mundo onde a informação circula de maneira veloz e que se pode logar filmes no Letterboxd, o jovem de hoje é mais consciente, mais engajado e isso ressoa na maneira como as personagens e os elementos simbólicos dos filmes anteriores fazem parte desse novo longa, menos como homenagem e mais como ferramentas a disposição das personagens, de posse de todo um arcabouço de conhecimento dos longas anteriores e sob os quais se dá um processo de renovação da franquia, sem a descaracterizar por completo. 

Nesse sentido, esse é o filme que mais brinca com as possibilidades de se construir um bom slasher "whodunit" (é um estilo de histórias de ficção que começam com um crime, geralmente um assassinato, no qual uma investigação tenta descobrir o autor do ato) que inverte expectativas e constrói cenas violentas de maneira dedicada e satisfatória. Até a cena de abertura inicial surpreendente com a ideia de quanto mais melhor. 

Até mesmo a dinâmica dos novos personagens, sobreviventes dos longas anteriores, soa melhor e mais entrosada que no longa anterior, consolidando a mudança de núcleo de personagens centrais e a passagem de tocha para a sobrevivência da franquia. A mudança de cidade é uma das responsáveis por fazer isso funcionar de maneira geral, com novas dinâmicas, com direito a uma cena ambientada em um metrô no Halloween que ensaia uma espécie de carnaval slasher em que fantasiados de Michael Myers, Hellraiser e Ghostface tornam o clima tenso e justifica a mudança de espaço. 

Dentro dessa lógica da representar um juventude mais engajada e de ampliar a categoria de filmes para a qual se insere, abraçando o conceito de franquia,  Pânico 6 ressoa muito nas gerações novas de espectadores quando não só os assassinos usam a icônica máscara e sujam a faca de sangue, mas a final girl também. Até a sugestão da psicopatia de Sam e a sua relação próxima com a sua sombra (representada pela figura do pai que vez ou outra surge) conversa com a catarse do espectador diante das cenas violentas. E, mesmo que comece a demostrar certo desgaste em seus discurso metalinguístico desde o longa anterior, Pânico 6 ainda é um slasher eficiente que não faz feio diante de seus antecessores mais inspirados. 

Direção: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett

Elenco: Melissa Barrera, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding, Courteney Cox, Hayden Panettiere, Dermot Mulroney, Liana Liberato, Jack Champion, Devyn Nekoda, Josh Segarra, Samara Weaving.

Roteiro: James Vanderbilt, Guy Busick

Fotografia: Brett Jutkiewicz

Montagem: Jay Prychidny

Trilha Sonora: Brian Tyler

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