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sexta-feira, 1 de abril de 2022 às 15:41 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments

A capacidade do cinema de horror de sugerir vários subtextos e se camuflar em vários gêneros é louvável. Há o slacher (terror com um assassino), o sobrenatural, o extremamente violento, o cômico, jocosamente nomeado de terrir, já "Fresh" mistura os códigos da comédia romântica, outro gênero esquemático e cheio de clichês como o terror (talvez até mais engessado e com sérias dificuldades em se reinventar), que são deliciosamente burlados para dar lugar a um longa desconfortável e nojento, no bom sentido, que me lembrou um pouco "Raw", porém com menos cenas gráficas e com um comentário social e feminista mais à vista.

"Fresh" é um longa que surpreende a cada virada de ato. Até aparecerem os seus créditos iniciais passamos por algumas mudanças de trama e inversões de expectativa que aumentam a tônica da narrativa e constroem um discurso sobre a objetificação da mulher, numa articulação de ideias coerente.

Ao falar sobre a dinâmica moderna dos relacionamentos e o uso de aplicativos, em que julgamos as pessoas por fotos, pela aparência construída e muitas vezes manipulada, "Fresh" fala sobre a superficialidade presente em considerarmos as pessoas como meros pedaços de carne. Certamente a mulher é quem mais sofre dessa estigma. E se isso é sugerido pelo início do longa, o desenvolvimento cada vez mais literal dessa premissa gera uma oportunidade muito original de explorar a maneira como a mulher é vista por essa cultura moderna de fotos e aplicativos.

Com uma decupagem que foca em comidas, bocas mastigando, partes do corpo, ou de um corpo sem partes, "Fresh" pode até pecar um pouco no desfecho, que acontece às custas de uma série de concessões que o personagem de Sebastian Stan comete, mas toda a construção e quebra de expectativas, muito potencializada pela protagonista misteriosa e engenhosa que nunca revela o que está pensando de fato, é muito bem construída e faz de "Fresh" um longa que certamente ficará fresco na memória por muito tempo.

Direção: Mimi Cave

Elenco: Daisy Edgar-Jones, Sebastian Stan, Jonica T. Gibbs, Andrea Bang, Dayo Okeniyi, Charlotte Le Bon, Brett Dier, Alina Maris, William Belleau, Lachlan Quarmby, Sunghee Lapell, Arggy Jenati, Anthony Ingram, Frances Leigh, Lance Birley, Joe Costa, Larry Hoe, Scott McGrath, Robert Corness

Roteiro: Lauryn Kahn

Fotografia: Pawel Pogorzelski

Montagem: Martin Pensa

Trilha Sonora: Alex Somers



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