Gardo (Eduardo Luís) e Raphael (Rickson Tevez) são garotos que vivem em um lixão. Um dia, Raphael encontra uma carteira com uma boa quantia em dinheiro e a divide com o amigo. Entretanto, logo surge o policial Frederico (Selton Mello), que está justamente procurando a carteira a mando de um candidato a prefeito, Santos (Stepan Nercessian). Os garotos não revelam que a encontraram e pedem ajuda a Rato (Gabriel Weinstein), também morador do lixão, para que possam descobrir o que ela tem de tão importante. É quando percebem que, através de uma chave, embarcarão em uma verdadeira caça ao tesouro.
Não é preciso saber que “Trash” é uma adaptação de uma história, uma fábula, ambientado em meio a um cenário desolado que sofre pelo abuso de poder e que como narrativa claramente mudou o tom de aventura juvenil no decorrer do processo para uma espécie de crítica política, de uma produção britânica-tupiniquim, para um filme quase que totalmente nacional. Um filme nacional ruim, diga-se de passagem.
Assumindo na sua estética e narrativa uma fusão entre “Cidade de Deus” e “Quem quer ser um milionário”, Stephen Daldry erra em inserir no meio da narrativa um vídeo dos personagem descrevendo algumas de suas impressões sobre as experiências vividas e retratadas no longa, que não só interrompe o fluxo da narrativa nos momentos mais envolventes, como dá um ar de estranheza e artificialidade para tudo aquilo. Os pontos mais fortes se devem aos breves momentos que Wagner Moura tem em cena, sendo o seu personagem o mais próximo de um herói dentro do filme, pela escolha em desafiar certos personagens ao longo da trama. Em compensação, Selton Mello é completamente desperdiçado no filme com seu vilão maniqueísta, que o roteiro não faz a mínima questão de tentar desenvolver, parecendo mais um personagem de telenovela do que de um filme de Stephen Daldry. A presença de Martin Sheen e Rooney Mara soam igualmente artificiais e despropositadas, nunca se justificando ao longo da projeção e só soa interessante ao público brasileiro pelo choque de culturas.
Naturalmente envolvido pelas manifestações que ocorreram em 2013 e por sua sensibilidade já mostrada em filmes anteriores, Stephen Daldry provavelmente não se conteve em fazer comentários políticos e atacar certas instituições. Numa solução que soa simplista, apesar de bem intencionada, nada serve ao filme, principalmente do meio para o final, em que uma série de acontecimentos, personagens que aparecem e desaparecem, objetos que devem ser adquiridos, mistérios e códigos a serem resolvidos, nada disso mais faz sentido e a fábula termina com uma lição de moral ingênua.
Para o público brasileiro é um exercício interessante assistir “Trash”, pelo choque de culturas e por ver um diretor que aparentemente se envolveu com a locação de seu filme. Méritos também por ser um filme quase que totalmente falado em português, afinal é uma coprodução britânica. Mas é frustrante porque nada disso ajuda o filme.
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Felipe Braga e Richard Curtis, baseado num livro de Andy Mulligan
Fotografia: Adriano Goldman
Elenco: Wagner Moura, Selton Mello, Gabriel Weinstein, Rickson Tevez, Nelson Xavier
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