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domingo, 15 de outubro de 2023 às 07:34 Postado por CultComentário 0 Comments


 "O Exorcista - O Devoto" é um anúncio do esgotamento do modelo de franquia baseado na "sequência-legado", que sustentou a última trilogia "Halloween" realizada por David Gordon Green, que dirige este filme também, e vai levando adiante a franquia "Pânico". Também é um longa que evidencia o desgaste do conceito de "terror elevado" que popularizou os filmes da A24, que procurou colocar nos filmes de terror algum conceito mais reflexivo ou algum comentário mais profundo (algo que sempre fez parte desse gênero de filme). Os longas produzidos pela A24 só se diferenciam na forma como faziam isso, para o bem ou para o mal. Diante disso, esta nova encarnação de O Exorcista lida, basicamente, com os mesmos temas que o recente "Fale Comigo", adquirido pela A24, discorre, porém, de maneira um pouco mais interessante.

Lidando com o tema do luto, "O Exorcista - O Devoto" lida com o processo de significação da evocação de espíritos, da possessão e do exorcismo, para os diversos personagens apresentados. Há o paralelo das duas garotas que vão para a floresta tentar evocar o espírito da mãe falecida de uma delas. Para uma é uma maneira de processar o luto. Para a outra, não parece passar de uma brincadeira. O fato da garota não poder carregar um pertence da falecida mãe por proibição do pai já mostra que aquele luto não fora processado da maneira correta. Como que sugerindo uma escalada rápida nesse luto não processado, a possessão toma os ares de uma realidade distorcida típica do desenvolvimento de um trauma e posterior psicose. Mas, se para uma das garotas a possessão parece simbolizar o luto não bem processado, qual o significado para a outra? A menina branca de classe média, que frequenta a igreja, parece possuir em seu núcleo familiar um certo mal-estar conservador, que o filme só dá pistas. A maior delas é o descaso com o outro, quando o pai escolhe a sua própria filha em detrimento da outra criança que não lhe "pertence", já no desfecho do longa. Isso parece ser David Gordon Green tecendo comentários políticos, já presentes em sua trilogia Halloween, principalmente nos dois últimos filmes. Esse descaso, esse mal-estar conservador que desemboca em atitudes reacionárias, também abraça a possessão como uma distorção da realidade.

A cena do exorcismo, com toda uma verborragia católica-pentecostal, soa como um exagero, uma quase paródia de culto que distorce ainda mais uma realidade inatingível: os traumas pessoais, de um lado, e os traumas coletivos estadunidenses, de outro.

A vulgaridade toda na forma como o filme se apresenta (com uma caricatura de culto, com uma montagem picotada que desfaz o filme diante de nossos olhos, simbolicamente representada por uma personagem que tem os olhos mutilados,  se livrando rapidamente do padre e, ainda assim, teimando em se chamar O Exorcista) só encontra uma resolução quando o verdadeiro mal é resolvido ou evidenciado. De um lado o problema do luto é posto em evidência ao trazer em cena o objeto que pertencia à mãe falecida. De outro a punição da filha pelos pecados dos pais toma forma, alertando para os possíveis problemas velados no âmago daquela família.

"O Exorcista - O Devoto" é um filme que lida com o tema da distorção da realidade na forma dessa possessão demoníaca, optando por enfrentar a realidade e o mal, seja individual ou coletivo, em detrimento da fantasia sobrenatural.

Direção: David Gordon Green

Roteiro: Danny McBride, David Gordon Green, Scott Teems, Peter Sattler

Montagem: Timothy Alverson

Fotografia: Michael Simmonds

Trilha Sonora: David Wingo, Amman Abbasi

Elenco: Leslie Odom Jr., Ann Dowd, Lidya Jewett, Olivia Marcum, Jennifer Nettles, Norbert Leo Butz, Ellen Burstyn, E.J. Bonilla, Raphael Sbarge, Antoni Corone, Danny McCarthy, Norah Murphy, Chloe Traicos, Chandu Kanuri, Richard Carr III, Okwui Okpokwasili, Malena Cunningham Anderson, Emily Rachel Gordon, Linda Boston, Nick Benas, Justin Paul Warren Seth Loven, Dylan, Probert, Amanda Beth, Lariah Alexandria, Cecil Chatman, Rory Gross, Nigel Barto, Edward James Warren


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