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quarta-feira, 23 de novembro de 2016 às 09:36 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments



Considerado mestre do suspense, ao longo da volumosa carreira de Alfred Hitchcock podemos perceber que o diretor também foi capaz de desenvolver outros gêneros com igual destreza. É o que se percebe ao assistir o primeiro filme que realizara nos Estados Unidos. “Rebecca, A Mulher Inesquecível” conta a história de uma jovem dama de companhia que se apaixona e casa com um lorde atormentado pela lembrança de sua primeira esposa, Rebecca, que morrera em circunstâncias trágicas. A jovem tem dificuldade em se adaptar à vida na mansão e à governanta, sra. Danvers.


Com um enredo que se revela como um drama psicológico, Hitchcock não deixa que os aspectos mais inocentes e melodramáticos da trama enfraqueçam a narrativa, que curiosamente constrói calcada no suspense pontuado pela trilha inspirada de Franz Waxwan. A protagonista sem nome interpretada por Joan Fontaine e que se torna a sra. de Winter é dona de uma personalidade inteligente, perspicaz e sofrida e se estabelece como os olhos do público para uma trama que vai se desenrolando em muitas situações e revelações. Laurence Olivier tem presença marcante com o seu Maxim de Winter, pontuando a amargura presente em seu personagem. A governanta, sra. Danvers, interpretada por Judith Anderson é marcada pela maneira inteligente que Hitchcock a retrata, enquadrando-a de maneira a nunca mostrar a personagem caminhado ou se mexendo, quase sempre impassível, contrastando com a personagem de Joan Fontaine, que se sente ameaçada e amedrontada com a presença de Danvers. A mansão de Manderley também possui forte presença, como uma casa mal assombrada, e faz parte da galeria de casas isoladas e que carregam consigo ameaças e medos, recorrentes na filmografia de Hitchcock, como em “Os Pássaros” ou “Psicose”.


Dono de uma linguagem minimalista e nunca se rendendo a exageros e excessos, Hitchcock constrói seus longas com uma lógica visual instigante e invejável. Vale notar, por exemplo, que quando o diretor usa um plano inclinado (plano holandês), este vem a retratar a instabilidade e insegurança do personagem enquadrado, e esse efeito passa a fazer mais sentido ainda quando comparado aos planos realizados com o eixo retos que preenchem o resto do longa, principalmente nos dias de hoje em que os cineastas usam com exagero o plano holandês, perdendo o seu significado narrativo e acabando por se tornar mero capricho estilístico. O uso que o diretor faz do plongée é igualmente marcante e vai permear toda a sua obra.

A fotografia em preto e branco trabalha bem com as luzes e sombras, algo fundamental para o clima pretendido por Hitchcock, que aliada à já citada trilha sonora, torna este que poderia ser um simples drama psicológico nas mãos de outro diretor, num verdadeiro thriller bem construído, envolvendo do início ao fim.
Apesar de contar com uma resolução que possui desdobramentos pouco coerentes colocados através de um diálogo expositivo, “Rebecca, A Mulher Inesquecível” acerta por ter uma personagem feminina corajosa e perspicaz, em não se render ao uso de flashbacks, nunca personificando a Rebecca do título, e por criar um drama psicológico com pitadas de thriller, estabelecendo um tom instigante e envolvente, naquele que está entre os grandes trabalhos de Hitchcock.



Observação: Recomendo a leitura de um dos principais livros sobre cinema já escritos, “Hitchcock Truffaut”, livro de entrevistas em que o cineasta François Truffaut entrevista o mestre Alfred Hitchcock, discorrendo sobre a profissão desde os primeiros trabalhos na Inglaterra e o sucesso nos Estados Unidos, em que discutem cada filme com detalhes, sobre os roteiros e dificuldades de se fazer cada filme, além de declarações bem humoradas sobre as estratégias narrativas e sobre a própria vida. Como complemento há um podcast produzido pelo site Cinema em Cena que trata da obra do cineasta com mais detalhes, um verdadeira aula sobre Hitchcock.





Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Robert E. Sherwood e Joan Harrison, adaptado do romance de Daphne du Maurier
Fotografia: George Barnes
Música: Franz Waxwan
Montagem: Hal C. Kern

Elenco: Laurence Olivier , Joan Fontaine , Gerge Sanders, Judith Anderson , Nigel Bruce, C. Aubrey-Smith

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