Não é fácil ser adolescente. Principalmente ser mulher adolescente e sofrer toda uma gama de transformações corporais e hormonais nessa fase. "Possuída" é um longa que se apropria do terror de maneira a construir essa alegoria das transformações do corpo que uma jovem adolescente está sujeita.
Comparando o high school com uma "latrina hormonal" e pontuando sentenças como "fiz tudo para ser diferente mas meu corpo ferrou comigo" e "as palavras 'só' e 'cólicas' não combinam", "Possuída" traz essa confusão corpórea e identitária elevada à máxima potência quando mistura a licantropia no processo, sendo um retrato alegórico muito pungente do que é a pressão de ser uma adolescente na escola, com um pai distante ("Fique no seu mundinho Harry, este aqui o deixa muito confuso"). É quase um "A Mosca" revisitado pelo pelo gênero de horror dos anos 2000, que ainda estava procurando seus temas e formatando uma identidade. Até a maquiagem precária combina com a ambientação do Halloween e o jogo de luzes que varia entre o vermelho e o violenta, ou seja, entre a dubiedade do amor e da violência feroz e o elemento místico da trama, numa realidade crua que perde o prumo a medida que a história avança.
Entre a culpa feminina exposta pela figura da mãe e as dificuldades da menstruação e da descoberta do sexo por Ginger, a pressão do que é ser mulher, forçada a seguir os estereótipos impostos de santa ou devassa, é expresso pela trajetória de uma personagem que é cerceada pelas pulsões do seu corpo.
Direção: John Fawcett
Roteiro: John Fawcett, Karen Walton
Montagem: Brett Sullivan
Fotografia: Thom Best
Design de Produção: Todd Cherniawsky
Música: Mike Shields
Elenco: Emily Perkins, Katharine Isabelle, Kris Lemche, Mimi Rogers, Jesse Moss, Danielle Hampton, John Bourgeois, Peter Keleghan, Christopher Redman, Jimmy MacInnis, Lucy Lawless, Lindsay Leese, Wendii Fulford, Ho Pak-Kwong, Nick Nolan, Bryon Bully, Steven Taylor, Ann Baggley
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