Tem filmes que merecem ser lembrados eternamente pela sua importância política e social. É o caso de "Mississípi em Chamas", de Alan Parker.
O desaparecimento de ativistas que defendem os direitos humanos desencadeia uma perigosa e importante investigação pelo FBI envolvendo as ações da Ku Klux Klan. Aparecem Ward (Willem Dafoe) e Anderson (Gene Hackman), tendo que trabalhar juntos e superar algumas diferenças.
As personalidades de cada um dos agentes é o que mais chama a atenção quando confrontamos os seus métodos de trabalho. Ward é mais pragmático e procura seguir sempre as diretrizes e procedimentos do FBI, enquanto Anderson sabe das possíveis consequências que essa investigação pode causar, do estrago que irão representar se forem longe de mais, porém a sua experiência o faz dosar muito bem a gentileza e carisma com a rudeza e a firmeza necessárias em alguns momentos-chave. A investigação caminha de fato com as descobertas feitas por Anderson de maneira pouco convencional, mas que se mostra apropriada e vital. “Essa gente saiu do esgoto. Talvez fosse para lá que devêssemos ir”, é o que Anderson responde para Ward em dado momento da projeção. Como descobrir o modo como foi violado os diretos humanos, sem violarmos os direitos de quem outrora os violou no passado? É uma assustadora pergunta que surge quando assistimos ao filme. “Qualquer um que vê isto acontecer e ignora é culpado... Talvez todos nós sejamos”. A culpa recai pelos que cometeram o assassinato, sobre quem viu ou soube e não fez nada, e sobre aqueles que, mesmo conseguindo prender os culpados, se fazem culpados pela maneira como agiram para concretizar o seu intento. A direção de Parker, como sempre, é maravilhosa ao alternar momentos de discussão e investigação com momentos de pura tensão, muito bem regidos pela trilha de Trevor Jones, que mesmo sem evocar um tema inesquecível de que fique na memória, faz com que sua trilha soe muito eficiente dentro do filme. Reparem nos momentos em que ocorrem a ausência do som ambiente para dar lugar a canções e os momentos em que vemos relatos do povo de Mississípi falando sobre o que acham da ação do FBI ou do modo como os negros são tratados. Dafoe e Hackman estão brilhantes em suas interpretações, conseguindo com poucas frases e interações passar a aura das personagens. O elenco de apoio se sai igualmente muito bem.
Dessa forma, Alan Parker nos entrega algo mais que um filme, mas uma autorreflexão necessária e um estudo sobre a sociedade, suas ações, sua formação e principalmente, uma reflexão sobre o seu futuro.
Direção: Alan Parker
Produção: Frederick Zollo e Robert F. Colesberry
Roteiro: Chris Gerolmo
Elenco: Gene Hackman, Willem Dafoe, Frances McDormand, Brad Dourif, R. Lee Ermey, Gailard Sartain, Stephen Tobolowsky, Michael Rooker, Pruitt Taylor Vince, Badja Djola, Kevin Dunn, Frankie Faison, Tom Mason, Tobin Bell, Stephen Bridgewater, Bob Penny, Park Overall, Darius McCrary, Mark Jeffrey Miller, John P. Fertitta, Geoffrey Nauffts, Marc Clement, Rick Zieff, Dan Desmond, Lou Walker, Charles Franzen, Tonea Stewart, Robert F. Colesberry, Frederick Zollo
Montagem: Gerry Hambling
Fotografia: Peter Biziou
Design de Produçao: Philip Harrison Geoffrey Kirkland
Direção de Arte: John Willett
Compositor: Trevor Jones
Figurino: Aude Bronson-Howard, Ellen Lutter, Helen P. Butler
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