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Ao som de características músicas dos anos 1980, apresentando carros furiosos, policiais compenetrados e cenas do por do sol banhadas por um vermelho alaranjado, ao mesmo tempo que insere flashforwards ao longo da sequência inicial, parece que estamos diante de um filme policial datado e superficial, que tenta estabelecer certo glamour no ofício dos profissionais da lei e apresentar personagens femininas de maneira sexista. Ledo engado. Willian Friedkin não perderia a chance de criar um retrato cruel e realista da polícia de Los Angeles, ao mesmo tempo em que reflete sobre a linha tênue entre ser um criminoso e um representante da lei.


Desde os primeiros momentos somos apresentados ao agente federal Richard Chance, figura emblemática que se revela alguém extremamente competente e compenetrado nos casos que investiga, e dotado de um forte sede de adrenalina e emoção. É interessante notar que o personagem tem grande apreço, que beira ao vício, em praticar Bungee Jumping, e que isso revela muito sobre sua personalidade. Interpretado por William L. Petersen com extrema dedicação tem grandes momentos nos closes de Friedkin, em que empunha sua arma banhado em suor. Chance, na trama, deve lidar com um novo parceiro e seguir o rastro de um falsificador de dinheiro interpretado por Willem Dafoe, naquela que possivelmente está entre suas melhores atuações. O seu personagem, que também é pintor, estabelece correlação entre o seu ofício e a arte, reiterado pela maneira envolvente como Friedkin filma a fabricação de dinheiro falso, numa das sequências mais marcantes e hipnotizantes do longa. As duas personagens femininas de destaque, interpretadas por Debra Feuer e Darlanne Fluegel, além de serem exploradas em sua beleza e sensualidade, também tem a oportunidade de compor personalidades fortes e lhes são delegadas ações de extrema importância ao longo do filme. A relação de Chance e sua informante se estabelece de maneira complexa e instigante, e a maneira como o diretor filma os momentos que eles tem juntos exala a mais pura sensação de verdade em cada cena.



A fotografia é assinada por Robby Muller (que já colaborara com Win Wenders e Lars Von Trier), que pontua as cores quentes e áridas, como o amarelo, e com destaque para a presença do vermelho nas cenas em ambientes fechados, já nas cenas que se passam nas ruas transmitem a mais forte sensação de estarmos assistindo a um documentário.

A música composta por Wang Chung consegue produzir um clima de urgência e tensão e medida que o diretor se dedica e entrar na psique de seus personagens e narrar um filme policial de ação de dentro para fora. As cenas de ação são espetaculares e a sequência de perseguição de carros deve muito ao que fora feito em “Operação França”, ambas são extremamente realista, imersivas e de tirar o fôlego. Outra característica vital é que Friedkin só recorre à ação depois de já ter desenvolvido todas as nuances de suas personagens, o que faz com que as sequências tenham um peso dramático acima da média e passem a sensação de real satisfação e envolvimento ao espectador.



O roteiro do próprio Friedkin e de Gerald Petievich dispensa diálogos expositivos e tem a grande qualidade de nos colocar em meio a uma ação que já está acontecendo, carregada de tensão, sem prévias explicações.

Concebido de forma cruel e visceral, pondo em evidência o lado mais soturno da alma humana que convive com a nossa imagem idealizada do dia a dia, Willian Friedkin constrói um relato de ascensão e queda num ciclo de violência alimentado nas ruas e que nem mesmo as pessoas que deveriam combatê-lo conseguem se ver livres.



Direção: Willian Friedkin
Roteiro: Willian Friedkin e Gerald Petievich 
Fotografia: Robby Muller
Música: Wang Chung
Elenco: William L. Petersen, Willem Dafoe, John Pankow, Debra Feuer, John Turturro, Darlanne Fluegel, Dean Stockwell

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