“Ela” acompanha a história de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele adquire um novo sistema operacional. Ao iniciá-lo, ele conhece “Samantha”, uma voz feminina perspicaz, sensível e engraçada. A medida em que do tempo, a amizade dos dois se aprofunda em um inusitado amor.
Theodore, desde o início da projeção, estabelece as características de um personagem solitário que, em sua complexa dicotomia, tem mais habilidade expressar emoções de terceiros, do que articular as próprias emoções.
Ao se relacionar com o seu novo Sistema Operacional, que nesse mundo futurista vintage trata de emular um ser humano, Theodore articula uma autorreflexão ao tentar pensar sobre o seu antigo relacionamento.
O diretor Spike Jonze trata de fazer o bom uso de todo o potencial que a sua história pode oferecer. Ao pintar a sociedade tecnocrata formada por indivíduos que, lado a lado, mal olham uns para os outros, relacionando-se com seus compactos computadores, dando inclusive uma perspectiva extrema, mas nunca exagerada, do que uma tecnologia desse tipo poderia gerar em seu uso desenfreado e inconsciente.
Pois Spike Jonze, que já trabalhara com o brilhante roteirista Charlie Kaufman, que por sua vez explorara um tema parecido em “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, mas se em "Brilho Eterno" uma tecnologia é utilizada para remover lembranças, aqui a tecnologia serve ao personagem de Joaquin Phoenix como única alternativa de escapismo da realidade, a fim de preencher o vazio que leva em sua vida.
Dessa forma, preferindo investir num relacionamento com uma inteligência artificial, fica claro que Theodore busca, sim, uma solução para a sua solidão, mas sem ter que se comprometer com as responsabilidades de um relacionamento sério, e com as dores que surgirão dele.
Spike Jonze também explora outro potencial instigante de sua história: o fato de que Samantha, como um Sistema Operacional, tendo acesso a um amálgama de informações e podendo processá-las de maneira poderosa, como nenhum ser humano seria capaz de fazer, inevitavelmente acaba desenvolvendo capacidades de percepção que vão além das capacidades de qualquer indivíduo. Pois, sendo o ser humano igualmente resultado de várias informações, sensações, lembranças, instintos e percepções, abre espaço para a discussão sobra a humanidade de Samantha, sobre até onde o desenvolvimento de uma inteligência artificial criaria uma “consciência de si”.
Spike Jonze nos incita a pensar que a vida nada mais é do que aquilo que fazemos dela, uma vez que não é perfeita, muitas vezes sofremos, mas é real, limitada e, por isso mesmo, não podemos perder a chance de moldá-la e sermos moldados por ela, numa interação dolorosa, mas necessária, da qual não se pode escapar.
Direção e Roteiro: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson, Olivia Wilde, Rooney Mara, Chris Pratt, Portia Doubleday, Cassandra Starr, Sam Jaeger
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