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domingo, 10 de julho de 2016 às 06:55 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments


Num dado momento do longa, a protagonista, assistindo a uma magnífica apresentação de uma cantora, à execução de uma nota específica, carregada de técnica e emoção, deixa escapar uma lágrima. O que as duas têm em comum? Segundo o diretor Stephen Frears, o amor pela música.

Explorando com habilidade e sensibilidade o mundo interior de personagens femininas fortes, com certo ar de lastima em alguns de seus filmes, como em “A Rainha” ou “Philomena”, Frears conta a história da milionária Florence, aspirante à cantora que mesmo sem talento consegue se apresentar e tornar famosas suas canções. Contando com um elenco espetacular, o diretor investe no tom cômico, dando toques dramáticos à trama à medida que revela mais sobre sua personagem e explora o relacionamento dela com os que a rodeiam. As sequências que envolvem o time cômico do diretor, do elenco e da montagem são muito eficientes e envolventes, e quando resolve investir na tragédia da sua protagonista é igualmente eficaz. A reconstituição da época, da Nova York da década de quarenta, é maravilhosa, aliada a uma fotografia, música e figurinos que convergem para uma total imersão naquele mundo. Uma sequência em especial que envolve uma comemoração ao som de jazz é envolvente e bem executada.

O elenco é composto por uma Meryl Streep como Florence Foster com o completo domínio do ofício, numa atuação calculada e bem medida, mas sem perder o ar de espontaneidade e naturalidade, entregando à personagem certo ar de graça, humor e tragédia, sob o controle de uma narrativa que trata a personagem com respeito, um Hugh Grand extremamente carismático e elegante em seu St Clair Bayfield, conferindo também ao personagem certo ar de melancolia apropriada à trama e intencionada pelo diretor, Simon Helberg, a quem é delegada a função de ser os olhos do espectador como o adorável pianista Cosme McMonn enquanto conhecemos o mundo da protagonista, tendo nessa iniciação momentos cômicos brilhantes e encaixando no elenco principal como uma luva. Rebecca Ferguson tem presença forte com a sua Kathleen e Nina Arianda tem seu pequeno arco que vai de “vilã” à “heroína” com sua vulgar Agnes Stark. É digno de nota que Stephen Frears neste filme, como em outros de sua filmografia, nunca subutiliza suas personagens femininas ou as trata como personagens rasas. Mesmo as personagens coadjuvantes têm suas motivações bem delineadas e são compreensíveis do ponto de vista de personalidade, e não somente de aparência. O que nos leva à trama do filme e suas consequências.



À medida que o filme chega ao seu terceiro ato, culminando numa última grande apresentação que cumpre o seu papel cômico e dramático ao mesmo tempo (mais um ponto para Frears, que tem o domínio do tom do filme todo o tempo), notamos que a melancolia que vai dominando o clima do longa provem da reflexão que o filme propõe, ao reconhecer que vivemos numa sociedade de aparências e de falsas imagens, em que o dinheiro compra praticamente tudo e substitui praticamente tudo, inclusive o talento da protagonista para o canto, como também a dignidade de Kathleen, que Frears acertadamente se preocupa em fazer com que a personagem a recupere ao longo da trama e, como não poderia deixar de ser, também confere essa mesma dignidade à personagem título, numa conclusão venerável, lúdica e um tanto triste. Pode não configurar entre os seus melhores filmes, mas sem dúvida é um Stephen Frears hábil numa trama envolvente.



Direção: Stephen Frears
Fotografia: Danny Cohen
Música: Alexandre Desplat
Elenco: Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson, Nina Arianda, John Kavanagh
Produtoras: Pathé, BBC Filmes, Qwerty Films



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