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sexta-feira, 16 de outubro de 2015 às 19:39 Postado por Gustavo Jacondino 0 Comments



Criando um clima soturno que só é comparado às grandes histórias de horror, a imponência dos cenários e dos figurinos, em meio à fotografia belíssima, faz do longa uma espécie de conto, como os de Edgar Allan Poe, porém filmado. Inclusive Guillermo del Toro brinca com essa ideia na figura de Edith Cushing, que quer se tornar escritora e inclusive se compara à Mary Shelley.



A aspirante à escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) casa-se com o misterioso Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) e muda-se para sua sombria mansão no alto de uma colina. Habitada também por sua fria cunhada Lucille Sharpe (Jessica Chastain), a casa tem uma história sombria e a forte presença de fantasmas passam a abalar a sanidade de Edith.

Ao contrário de filmes como "Mama" e até mesmo "Atividade Paranormal", que tem o seu ponto mais fraco a tentativa de criar criaturas fantasmagóricas digitais e empregando-as como se fossem orgânicas o bastante para serem filmadas por muito tempo ou mesmo contracenando com os atores, aqui del Toro utiliza os efeitos visuais e os seus fantasmas com a mesma perfeição empregada em "O Labirinto do Fauno", fazendo as criaturas contribuírem para a estética proposta no longa. Nesse sentido vele citar que o diretor usa de maneira bem contida o velho recurso muito empregado pelos longas de horror, que costumam subir o som da trilha quando algo simplesmente surge no frame. O diretor emprega esse recurso uma ou duas vezes, mas, como se já soubesse que o público dificilmente cai nessa, resolve focar no clima construído e nas metáforas da sua história.

Naturalmente o uso das cores e dos primorosos figurinos ajudam a construir a atmosfera e mesmo estabelecer o filme, com destaque para o uso do vermelho em contraste com o branco e, naturalmente, quando surge a logomarca da Universal.

O enredo não é particularmente muito original ou inventivo. O primeiro ato, inclusive, parece realmente saído de um romance de Jane Austen ou algum folhetim Vitoriano. Os segundo e terceiro atos dão pistas, tem uma revelação já esperada e uma conclusão que só completa o flashforward do primeiro ato. Todavia, Edith comenta aos que leem o manuscrito de seu livro que utiliza os fantasmas com metáforas. Então vamos a elas: "A Colina Escarlate" do título surge no primeiro ato com uma justificativa calcada no mundo real. Quando somos apresentados à mansão, imediatamente notamos que a mesma está sob uma espécie de pântano vermelho. À medida que o enredo vai se revelando, vemos que a analogia com sangue não é mera coincidência, mas também entra na questão o amor que alguns personagens nutrem por outros e como esse amor pode ser destrutivo. Outro ponto interessante é notar um buraco que a mansão possui e a maneira como ocorrem as mortes dos personagens, alguns sofrendo deformidades que lembram muito o defeito da mansão. Inclusive a mansão é um personagem a parte de "A Colina Escarlate", pois tem características que lembram, na literatura, desde "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë e o conto "A Queda da Casa de Usher" de Edgar Allan Poe.  Mas o fato é que a forma da mansão é resultante da forma como as pessoas foram mortas nela ou por seus moradores, e nesse sentido a metáfora se faz muito elegante, um tanto obvia, mas inegavelmente apropriada.

O desempenho do elenco não deixa a desejar, com o destaque para Mia Wasikowska que consegue convencer muito bem no momento em que a personagem deve deixar de lado seu independente para se entregar ao amor de Sir Thomas Sharpe. Esse ponto do enredo tem, naturalmente, característica de conveniência, quase caindo no erro de desconstruir uma personagem recém criada simplesmente para impulsionar a história. Inegavelmente Jessica Chastain como Lucille Sharpe tem aqui o momento para poder brilhar a medida que sua personagem cresce nos segundo e terceiro atos. Tom Hiddleston consegue ser, ao mesmo tempo gentil, carismático e idealista como também exalar certa aura de ameaça. Por fim Charlie Hunnam se estabelece no decorrer da trama com a figura mais próxima de um herói, mas que acaba eclipsado pelas atuações de seus colegas e pelo peso que o enredo confere aos seus personagens.

Quase sempre visto como um subgênero e muitas vezes tendo associadas produções de menos recursos, não só recursos financeiros, mas também da criatividade e bom senso de seus criadores, o gênero de terror/horror não precisa apelar para a tortura, exposição exagerada de cadáveres, ou mesmo simples sustos ao aumentar o som da trilha e fazer surgir algo na tela, mas basta que se crie um ambiente que favoreça o lado sombrio que se pretende criar, tal qual em filmes como "Invocação do Mal", "O Espelho" e, felizmente, nesse "A Colina Escarlate", realizado por um cineasta obviamente apaixonado por esse tipo de história e seguro o bastante para saber como contá-la.






Direção: Guillermo del Toro

Música: Fernando Velázquez

Roteiro: Guillermo del Toro, Matthew Robbins, Lucinda Coxon

Fotografia: Dan Laustsen

Elenco: Tom Hiddleston, Jessica Chastain, Mia Wasikowska, Charlie Hunnam, Jim Beaver

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