Dona de um passado carregado de solidão e criada com certo distanciamento, o que não lhe impedia de ver a vida com certa graciosidade e poesia, Amélie Poulain enxerga prazer nas pequenas situações e sensações da vida. Mas ao mesmo tempo ela conta com certa dificuldade de resolver seus próprios problemas e criar laços mais profundos com outras pessoas, especialmente homens. Rodeada de personagens inusitados que lidam com seus próprios conflitos, que por sinal tem em seu centro a solidão ou o fracasso, e que geralmente colecionam algum objeto estranho ou possuem manias singulares, Poulain determina-se a encontrar o dono de certa caixinha de objetos antigos que encontra em sua casa. Pois é nessa jornada é que ela vai descobrir como se apaixonar e passar por cima de alguns de seus problemas.
Jean-Pierre Jeunet possui uma identidade narrativa muito forte em alguns de seus filmes. Ao narrar a sua história através do uso da voz off e introduzindo efeitos visuais, travelings, quebra da quarta parede entre outros recursos que tornam o filme um retrato bem humorado dos personagens, Jean-Pierre Jeunet expõe ao espectados elementos de manipulação narrativa de maneira aberta, assim como a sua personagem procura influenciar a vida das pessoas ao seu redor, exercendo o domínio sobre o acaso, quase que de maneira metalinguística ao trabalho de direção de Jeunet. Pois o roteiro de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” se estabelece como uma crônica de situações cômicas e dramáticas, por vezes conceituais, sobre uma vida carregada pelos fardos pesados dos problemas inerentes à condição humana e que por vezes perdemos a oportunidade de resolver. Nesse sentido a interpretação Audrey Tautou como a heroína dotada de toda a graciosidade e inocência é muito bem sucedida na construção da dramaturgia proposta pelo roteiro, já que todo o filme gira em torno da sua jornada. Do elenco de apoio o destaque vai para Serge Merlin como Raymond Dufayel e a subtrama que envolve a um dos seus quadros.
Atravessando a sua jornada através do simples e do cotidiano, mas nunca do ordinário, “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” nos propõe que é possível se permitir viver uma vida mais aberta às oportunidades que surgem para que possamos esquecer-nos de algumas dores do passado e nos aventurar com coragem num futuro e das experiências que dele surgir.
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Roteiro: Jean-Pierre Jeunet, Michael Moore
Elenco: Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Maurice Bénichou, Lorella Cravotta, Serge Merlin, Jamel Debbouze
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