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Um grupo de ex-revolucionários precisa se reunir novamente para resgatar a filha de um deles das mãos de um antigo inimigo. O filme está repleto de ricas referências a outros clássicos, como “Dr. Fantástico”, de Kubrick, e o cinema dos irmãos Coen — em especial “O Grande Lebowski”. Ademais, essa intertextualidade me fez considerar “Uma Batalha Após a Outra” um grande filme por si só, à altura das obras às quais faz referência.

O filme foi dirigido por Paul Thomas Anderson (PTA), conhecido por “Magnólia”, “Sangue Negro”, “Embriagado de Amor”, “Trama Fantasma” e “Licorice Pizza”. Costumo admirar as escolhas técnicas de Anderson, que elevam suas histórias, e este filme não é exceção. Em “Uma Batalha Após a Outra”, várias cenas com baixa profundidade de campo criam fundos de cores e luzes que se comportam como pinturas impressionistas, com os personagens em foco no primeiro plano, muitas vezes com seus rostos enquadrados de perto.

As cenas de perseguição também se destacam. Elas são filmadas de maneiras diversas — variando entre tomadas aéreas e zenitais até sequências no deserto estruturadas em um eixo horizontal, lembrando a urgência de “O Mundo Odeia-me”. Uma sequência particularmente marcante transforma uma estrada sinuosa em uma montanha-russa literal, clara influência do Expressionismo Alemão, em que o cenário é distorcido para fins narrativos.

A trilha sonora reforça o caos narrativo, enquanto a história transita fluidamente entre a comédia, a ação, o drama familiar e o comentário político. Em alguns poucos momentos, a narração em voz off aprofunda o drama familiar, lembrando o uso eficaz desse recurso no cinema de Martin Scorsese, outra influência evidente em Anderson.

Acima de tudo, PTA parece querer desorientar o espectador. O diretor se recusa a ser óbvio em suas escolhas, especialmente no que diz respeito ao gênero. Em uma época em que o cinema frequentemente depende de fórmulas rígidas, nostalgia e autorreferência, Anderson encena uma espécie de revolução em forma de arte — não porque busque ser revolucionário, mas porque o contexto do mainstream se empobreceu. Ao escolher filmar em VistaVision, ele vai na contramão dos processos digitais e do uso crescente de IA no cinema, práticas que muitas vezes precarizam o trabalho dos profissionais da área.

A montanha russa dramática que o filme encena parte do ponto em que as personagens e suas motivações são levadas a sério para depois serem desconstruídas em situações das mais absurdas. Por outro lado, no desfecho, o filme se remonta a partir de uma dramaturgia séria, que põe luz aos conflitos familiares e culmina numa ação em um cenário muito caro à tradição de filmes estadunidenses: o deserto e, por conseguinte, o western.

O filme apresenta-se como um thriller de ação com ambientação política, se desfaz em forma de comédia do absurdo, e se remonta a partir de um western expressionista. E esse exercício radical de se montar-desmontar-refazer desenha uma curva dramática acentuada calcada na impermanência, pouco segura, pouco conservadora, revolucionária por si só.

Por fim, o filme reflete a fé de Anderson nas novas gerações. Sua história ressoa com o ativismo político e, por extensão, com o ativismo artístico. Nesse sentido, “Uma Batalha Após a Outra” não apenas entretém, mas também inspira, oferecendo tanto uma crítica às instituições quanto uma esperança de renovação.






Direção: Paul Thomas Anderson

Roteiro: Paul Thomas Anderson

Montagem: Andy Jurgensen

Fotografia: Michael Bauman

Trilha Sonora: Jonny Greenwood

Elenco: Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Chase Infiniti, Benicio del Toro, Regina Hall, Teyana Taylor, Wood Harris, Tony Goldwyn, D.W. Moffett, Paul Grimstad, Dijon Kevin Tighe, John Hoogenakker, Eric Schweig, April Grace, Jim Downey, Alana Haim, Shayna McHayle, Brooklyn Demme, Sachi Diserafino, Melissa Dueñas, Starletta DuPois, Vanessa Ganter, Otillia Gupta, Nia Leon, Peter N. Lyas III, Joe Silva, Jeffrey Massagli.

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