Nos últimos anos a representação de determinados grupos da
sociedade encontram amparo nos grandes Blockbusters, com destaque óbvio para a
maneira como a mulher vem sendo representada nos filmes de grande bilheteria. Em “Star Wars – O Despertar da Força” tivemos como
protagonistas uma mulher e um negro, e teremos mais uma mulher em “Rogue One”,
as animações “Valente”, “Enrolados” e “Frozen” dispensam as princesas indefesas
e partem para caracterizar mulheres fortes e independentes e “Mad Max – Estrada
da Fúria” dá o destaque para uma mulher forte. Isso, além de ser reflexo de uma
estratégia mercadológica para fazer com que a maioria das pessoas se sintam
representadas nos filmes, é também uma dívida histórica que o cinema contraiu na
representação da imagem da mulher. E nesse “As Caça-Fantasmas” novamente protagonistas
interessantes e bem caracterizadas estrelam um bom filme.
Se estabelecendo como uma espécie de refilmagem, reboot e reimaginação
daquele universo criado sob o comando de Ivan Reitman, “Caça-Fantasmas”
depende, assim como o filme original, de um elenco eficiente. Paul Feig conta
com Kristen Wiig (Erin Gilbert), Melissa McCarthy (Aby Yates), Kate McKinnon (Jullian
Holtzmann) e Leslie Jones (Patty Tolan) formando um grupo entrosado e munido de
ótimas piadas que funcionam a maior parte do tempo. O destaque vai para a Jullian
Holtzmann de Kate McKinnon, que sempre rouba a cena sem nem precisar de uma
fala e possui um time cômico invejável. Kristen Wiig e Melissa McCarthy
encarnam a dupla de amigas, uma querendo mais prestígio e credibilidade em suas
pesquisas e a outra abraçando a possibilidade do sobrenatural, tudo como muita
competência e humor para que possamos entender o relacionamento das duas e nos
importar com as personagens ao longo da narrativa. Patty Tolan se destaca em
muitas oportunidades. Chris Hemsworth exibe ótimo talento para comédia e seu
Kevin é uma crítica bem vinda à “mulher objeto” que já apareceram continuam aparecendo
até hoje em filmes Hollywoodianos. As participações de personagens e atores dos
filmes anteriores são dispensáveis, uma vez que não andam com o filme em termos
de narrativa e só servem para agradar fãs, apesar de sempre ser muito bom rever
Bill Murray. Andy Garcia como o prefeito de Nova York também tem momentos fantásticos,
principalmente em um que faz uma citação a “Tubarão”. O vilão do filme,
interpretado por Neil Casey, apesar de ter certa dose de caricatura agregada,
tem uma motivação compreensível e representa uma ameaça real e forte o bastante.
O roteiro é dependente do filme original em muitas decisões
que toma ao longo da narrativa, mas o fato de ter aqui protagonistas que não
tentam emular as personalidades dos personagens do filme original já é uma
grande oportunidade para criar novas situações dentro de uma história já conhecida.
Outro ponto acertado é referenciar o longa de 1984, através de lugares comuns e
explicar a origem da logo marca ou o carro usado.
A trilha sonora de Theodore Shapiro é bem eficiente em
evocar comédia e tensão em momentos pontuais, mas nesse tipo de filme a trilha
original exerce uma função essencial de nostalgia e referência. As novas
versões da canção interpretada por Ray Parker Jr são igualmente
eficientes ao longo do filme e servem para dar um ar de novidade, essencial a uma
refilmagem. Um momento em particular que envolve Holtzmann usando suas armas,
ao som da trilha revisitada no meio de uma Nova York em perigo é muito
envolvente e visualmente brilhante.
O Design de Produção se destaca ao criar sempre invenções
ricas em detalhes e os efeitos visuais acertam ao retratar os fantasmas como
figuras que parecem terem saído de um filme do Guillermo Del Toro, não só figuras
cômicas, mas muitas ameaçadoras. Visualmente o filme é um espetáculo vistoso e
a fotografia trabalha muito bem as cores e a aparência dos fantasmas, fazendo
bom uso do verde esmeralda, simbolizando o sobrenatural na forma de ameaça.
Paul Feig dirige as cenas de ação sem arriscar em planos e
sequências que os espectadores possam se sentir confusos ou perdidos no meio da
encenação, o que é uma decisão muito acertada. O controle que mantém do elenco
é total e provavelmente foi feito muito uso do improviso e das piadas criadas
na hora, tamanha a naturalidade de algumas cenas.
Assim, tudo que uma refilmagem deve fazer não é tentar ser melhor
que o filme que lhe deu origem, mas simplesmente justificar a sua existência,
algo que “As Caça-Fantasmas” faz de maneira exemplar e melhor que muitos filmes
derivados de grandes sucessos, dando vontade de ver uma segunda aventura
protagonizada por esse cativante elenco.
Direção: Paul Feig
Elenco:
Kristen Wiig , Melissa McCarthy, Kate McKinnon, Leslie Jones, Kate McKinnon, Chris
Hemsworth, Neil Casey, Cecily Strong, Andy Garcia, Ed Begley Jr., Zach Woods,
Charles Dance, Karan Soni, Bill Murray, Sigorney Weaver
Roteiro:
Katie Dippold, Paul Feig
Fotografia: Robert D. Yeoman
Música: Theodore Shapiro
Montagem: Melissa Bretherton, Brent White
Design de Produção: Jefferson Sage
Figurino: Jeffrey Kurland
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